Quando falamos de empoderamento, estamos falando em descobrir e assumir o poder que nós já temos. Estamos falando em assumir nossos talentos, nosso brilho. Estamos entregando/devolvendo para nós mesmas um poder que já foi nosso.
Quando eu me aceito como eu sou, aí eu posso mudar — disse Carl Rogers.
O tema empoderamento me encanta.
Meu interesse por ele começou com uma sabedoria empírica de que os profissionais performavam mais quando apresentavam autoconfiança. Acompanhei dezenas de pessoas que, de uma hora para outra, param de entregar conforme seu padrão, não encontram explicação para o que está acontecendo, deixam de acreditar na sua capacidade e entram em uma espiral negativa.
Há 10 anos estudo sobre diversidade e inclusão, inclusive de gênero. Faz uns 8 anos que devoro livros sobre impacto das nossas emoções. Mas foi apenas esse ano que mergulhei em me atualizar sobre autoestima, autoaceitação, perseverança & mulheres, sororidade, empoderamento feminino.
Há alguns meses, Valéria Pimenta e eu criamos e começamos a rodar um Programa de Empoderamento Feminino: um olhar de dentro para fora para despertar autoaceitação. Acreditamos, agora mais do que nunca, que esta é a alavanca mais potente a ser trabalhada. Vou me explicar.
Quando falamos de empoderamento, estamos falando em descobrir e assumir o poder que nós já temos. Estamos falando em assumir nossos talentos, nosso brilho. Estamos entregando/devolvendo para nós mesmas um poder que já foi nosso. Por diferentes motivos, algumas de nós foram perdendo a autoconfiança.
Autoestima X Autoaceitação
Kristin Neff, em seu livro Autocompaixão, faz um excelente trabalho ao diferenciar autoestima e autoaceitação.
O primeiro é uma leitura que fazemos a respeito de nós mesmos, uma análise do saldo: Sou alguém boa. Sou alguém ruim. Sou mais ou menos.
Sabem como elaboramos essas respostas? Olhando para o lado. Através de comparação.
O problema da autoestima é o que precisamos fazer para tê-la em um nível alto. Precisamos estar acima da média. Que problema surge quando praticamente todas as pessoas do mundo procuram estar acima da média? Matematicamente é impossível.
Se queremos estar acima da média, só saberemos se somos boas o suficiente olhando para o lado e nos comparando com o restante. Temos a necessidade de nos sentir acima da média nos pontos que valorizamos nas nossas vida. Quando isso não acontece, nos sentimos mal com nós mesmas.
A autoaceitação não tem relação com nos julgarmos de forma positiva, mas com nos aceitarmos como somos. Falhas e acertos.
Kristin afirma que nossa autoaceitação é composta pela “autogentileza” — nos tratarmos como tratamos as pessoas que amamos e pela “humanidade comum”. A autoestima pergunta: como sou diferente dos outros? Já a autoaceitação pergunta: como eu sou igual aos outros?
O que temos de igual? Somos todos humanos. O que temos em comum em sermos humanos? Somos imperfeitos. Ponto. Que mania a nossa de lutar contra esse fato!
A grande sacada aqui, na minha perspectiva, é que tendemos a ver a aceitação dos nossos defeitos como passividade ou autoindulgência. Precisamos querer sempre mais de nós mesmas, olhar para o que está faltando com desconforto para termos certeza que estamos tentando nos desenvolver. Mas… a proposta que temos feito é diferente, propomos a busca pelo desenvolvimento sem nos auto desabonar. Quando aceito que, por ser humana, sou imperfeita, eu olho para as minhas falhas/dificuldades com maior curiosidade e aceitação. A partir do momento que tomo consciência dos meus gaps, entendendo que eles não me definem, por olhar para eles com coragem, eu me sinto forte para mudar, para me desenvolver e para fazer diferente.
Fácil? Nope.
Síndrome do Impostor: que “bicho” é esse?
O termo Síndrome do Impostor foi criado em 1978 (!) por duas psicólogas para descrever um mecanismo psicológico de defesa que altera nossa percepção sobre como os outros nos vêem e como cada um vê a si próprio, principalmente em relação às conquistas profissionais.
Em 1985, Dra Gail Matthews conduziu um estudo que revelou que 70% das pessoas já tiveram, possuem ou terão Síndrome do Impostor em algum momento das suas vidas profissionais.
Lou Solomon afirma que os principais sintomas da Síndrome são intensa ansiedade, medo do fracasso, perfeccionismo e dúvidas sobre as nossas capacidades. Quem é impostor de si próprio não acredita nas evidências visíveis de que é competente, porque considera-se inferior em comparação com os outros e incapaz. Baseia-se principalmente em sentir que não se merece um reconhecimento ou elogio por algo que se tenha feito (não acreditam que estão onde estão por mérito próprio), que o sucesso que se alcançou não lhe pertence e que a única coisa que pode explicar o feedback positivo é a sorte, vivendo perturbado pelo medo de que, um dia, descubram que é uma fraude.
Não sei vocês, mas eu tenho a impressão de que o percentual de 70% apresentado no estudo feito há 35 anos deu uma boa aumentada.
Quando eu e Valéria iniciamos nossas sessões de Coaching em Grupo sobre empoderamento feminino, perguntamos por qual motivo as mulheres decidiram participar do program, e… adivinhem? Pelo menos 90% delas relata algum(ns) do(s) sintoma(s) da síndrome como motivador.
Lou Solomon conta que identificar a voz, a personagem interna que existe dentro de nós, que nos fala que não somos capaz é o 1o passo para combater a síndrome. O 2o passo é detectar vozes, personagens internos que nos valorizam, que nos tratam com admiração para conseguir compensar.
Somos seres ambíguos, temos dentro de nós pensamentos que podem nos estimular assim como nos paralisar.
Pensamentos Secretos e Trituradores
Valerie Young, em seu livro Pensamentos Secretos das Mulheres de Sucesso, reforça a ideia de que podemos construir pensamentos que nos denigrem e que colocam em xeque nossas competências. E diz mais: ela comenta sobre pensamentos trituradores.
Pensamentos trituradores são pensamentos recorrentes que produzem uma profunda convicção negativa sobre nós mesmas. Estão relacionados com um sentimento básico de inadequação e indignidade.
A boa notícia é que estes pensamentos possuem conteúdos mentirosos. Precisamos identificar esses pensamentos e colocá-lo em uma espécie de tribunal e agirmos como advogadas de acusação, exigindo que estes pensamentos nos provem com fatos e dados que eles são verdadeiros. Quando vamos para a razão, fica claro que estes pensamentos não possuem evidências consistentes e que, com o passar das vezes que eles são questionados, tendem a ir diluindo seu efeito em nós.
Phil McKineey também traz um olhar interessante para este papo. Ele teoriza que a Síndrome do Impostor está a serviço de proteger o nosso segredo. Ele acredita que temos uma falha, uma frustração, uma dificuldade que escondemos das outras pessoas. E infelizmente, mesmo que prosperemos em diversos temas, como essa falha ainda existe, não nos sentimos merecedores de reconhecimento.
Phil recomenda que, ao sentirmos os sintomas da Síndrome do Impostor, tentemos identificar qual é o tal “segredo”. O que temos medo que as pessoas “descubram” sobre a gente? O que eu teria pavor de ouvir ao meu respeito? O que isso tem a ver com a minha história? E principalmente, o que isso tem a ver com o meu presente?
Podemos ir eliminando o medo de sermos descobertas contando nosso segredo para as pessoas próximas, avaliando as reações, ficando atentas se os outros realmente passam a nos desqualificar depois que tomam conhecimento sobre o nosso “mistério” ou se nem se importam. O mais provável é que a 2a opção aconteça.
Mentira X verdade: quem ganha?
Autocrítica é importante, quando é justa e gentil. Quando a autocrítica é maldosa e cruel, deixa de ser autocrítica e passa a ser desrespeito.
Você já pensou em escrever as frases que você fala para si mesma em um dia que está se criticando muito? Pode ser até chocante a dureza das palavras que você usa consigo mesma. Certamente você não usaria o mesmo vocabulário e tom de voz para reagir a erros das pessoas que ama.
Está funcionando para você? A maneira como você vem interagindo com a sua autocrítica está ajudando ou atrapalhando?
E digo mais, existe uma grande possibilidade de que os pensamentos trituradores sejam mentirosos. GRANDE possibilidade.
Use a mesma energia que você emprega na sua autocrítica para elencar as verdades que fazem de você uma pessoa incrível. Você ficará surpresa com o resultado.
Uma das participantes do nosso programa elencou que a frase trituradora que ela mais usa é: “Você ainda não está pronta!”. Ela conseguiu reformular esta frase para uma verdade que faz dela uma pessoa incrível, segundo ela mesma: “Você tem está sempre em evolução”. O remédio para a sua dor está dentro dela mesma.
Outra participante refletiu que a sua frase trituradora mais forte é: “Você faz mesmo tudo errado.” Reformulada, a verdade que faz dela uma pessoa incrível é uma enorme capacidade de resolver problemas e consertar os erros dos outros.
Sim, a verdade supera a mentira. A mentira tem perna curta, não?
Nosso desafio mora em conhecer as nossas verdades e assumí-las. Jornada longa, linda e que não precisa ser vivenciada sozinha.
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