Founders, herdeiros de amor

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“A 1a vez que eu tive contato com um computador foi na escola, eu tinha 15 anos. Tive certeza na hora que minha profissão estaria relacionada com isso.

Meus pais passavam perrengue para pagar as contas, não tive nem coragem de dizer que eu queria um objeto tão caro.

Tive a ideia de dar aula de jiu-jitsu para crianças para conseguir dinheiro para eu mesmo comprar. No final de um ano de esforço, eu estava longe de chegar no valor necessário. Meu pai foi na loja e parcelou o computador em muitas vezes e pagamos juntos.”

Várias conversas que tive com founders no último ano possuíram esse enredo: origem humilde + vontade de aprender sobre algo ou ter uma experiência relevante + começar a trabalhar desde adolescente. São famílias de diferentes regiões e raças; são vontade de fazer intercâmbio, participar do campeonato de xadrez, fazer cursinho; são profissionais que foram trabalhar de menor aprendiz na fábrica na qual o pai era mecânico, ajudar a mãe a vender doce, dar aula de bateria.

Desafiando uma crença coletiva de que VC só interage com founders que fizeram faculdade fora do país, minha rotina na Astella é preenchida por interagir com empreendedores diversos. Principalmente agora em abril, com South Summit e Web Summit Rio.

Muitas vezes essas histórias também são recheadas de pais que batalharam muito, conseguiram melhorar as condições da família mas por algum motivo, perderam tudo. Pais que venceram mas por falta de conhecimento ou tino empresarial, não conseguiram sustentar progresso obtido. Entretanto, esses pais, de algum forma, conseguiram fazer com que seus filhos tivessem acesso à educação, a conhecimento.

A trajetória profissional dos pais pavimentou a carreira dos filhos. 

Somos filhos de pais que queriam ter sido alavancados, entretanto, por diferentes causas, conseguiram construir a alavanca, mas não a usaram em benefício próprio. Entre investir em uma alavanca para eles, priorizaram fazer para nós. Acreditaram em nós. 

O amor dos pais desses founders os colocaram em uma condição mais próspera, mais fértil, mais propícia ao sucesso. Podemos dizer que esses fundadores não herdaram bens, dinheiro, educação, mas eles certamente são herdeiros de amor.

São founders que perseveram não apenas em nome deles, da sua vontade de resolver um problema, do seu desejo de construir algo grande. Quando as dificuldades aparecem, uma voz dentro deles os lembra que seus pais batalharam e acreditaram. E então, eles voltam a acreditar também.

Agradeço a todos os empreendedores e empreendedoras que me dão oportunidade de conhecer e me emocionar com suas histórias.