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Medos e coragens absurdas presentes na vida do(a) founder.

Atualizado: 2 de mai.


Medos bobos, coragens absurdas. Frase de Clarice Lispector, minha guru, que foi minha inspiração para o que escreverei abaixo.


Muito se fala no empreendedorismo sobre a necessidade de correr risco, aceitar erros, realizar testes. Temos várias frases para isso: “seu primeiro produto é sempre inocente”, “se você acertou na 1a versão do seu produto que foi para rua, você lançou tarde demais”, “está com medo, vai com medo mesmo”... Essas frases foram criadas para encorajar founders a enfrentarem seus medos.


Eu percebi que conhecia menos do que deveria sobre os medos que os(as) founders sentem ao longo da jornada quando eu assisti a uma conversa poderosa entre uma mentora e uma empreendedora: 


  • Eu tenho muito medo! - disse a founder

  • Você confia na qualidade do seu produto? - perguntou a mentora

  • 150%! - respondeu a founder, mudando sua postura fragilizada para a posição da Mulher Maravilha (rosto para cima, nariz empinado e mãos na cintura) com voz firme

  • Então, qual é o medo?

  • Quem me conhece sabe que eu só colocaria na rua um produto excelente, sabem que sou exigente. Mas vender apenas para quem me conhece não será suficiente, tenho medo que meu produto não venda. 

  • Sua startup está na fase de validação do produto, o medo “do momento” é que seu produto não resolva a dor do cliente. Medo de não vender está na próxima etapa, não antecipe medos - falou a mentora sorrindo de maneira acolhedora - cada fase, um medo. Assim destrinchamos o medo maior, o de falhar, em diferentes pedaços e vamos tratando um a um, aos poucos. Combinado?

  • Faz sentido - respondeu a founder mais aliviada.


Nunca havia pensado que conhecer os desafios de cada etapa do desenvolvimento de uma startup também ajuda a gente a saber qual é o medo que faz mais sentido para o momento que se está vivendo e o que é “apenas” antecipação e ansiedade.


Falamos muito na relevância em se ter foco quando estamos empreendendo: 1 produto, 1 ICP, 1 canal de distribuição, 1 mercado. E agora, acrescento: 1 medo.


Como funcionamos diante do medo


Não sei vocês, mas eu, quando estou com medo, tenho pensamentos circulares. Fico em um looping infinito de “e se…”, “e se eu fizer isso, acontecerá tal coisa” e, “se eu fizer aquilo, acontecerá aquela outra coisa.” Eu me torno cada vez mais racional, tentando ver a situação como um jogo de xadrez, vivendo a ilusão de que a minha perspectiva é profunda e sistêmica o suficiente para prever os resultados de todas as possibilidades. Entretanto, o que eu sei de verdade é apenas a 1a jogada, todas as outras são suposições. E a construção dessas suposições drenam toda a minha energia.


Dentro de mim, quando estou com medo meus sentimentos e pensamentos correm em alta velocidade, é tanta energia direcionada para dentro que acredito que quem olha de fora deve achar que estou paralisada. 


Medo é uma emoção humana universal, sentida por todos os povos. Medo que a (péssima) capacidade de influenciar intensamente nossos pensamentos, comportamentos e decisões.  


Existem 7 tipos de medos considerados básicos, ou seja, medos que praticamente todo mundo têm, em diferentes situações e profundidades, entretanto todos nós, em algum momento de nossas vidas tivemos ou teremos medo:  i) da morte, ii) rejeição, iii) fracasso, iv) incerteza/do desconhecido, v) dor, vi) inadequação, vii) da perda de controle. 


Eu adoro entender o funcionamento das pessoas, isso ajuda demais na minha auto-aceitação, na regulação das minhas expectativas comigo mesma! Ao descobrir que é inerente ao ser humano sentir 7 tipos de medos, automaticamente, eu passo a sentir menos vergonha por sentí-los, e, me julgo menos. Eu me sinto mais intrigada para entender exatamente o que está me dando medo e mais curiosa para seguir no auto diagnóstico. Para mim, esse movimento de “eu não sou pior do que ninguém por que sinto medo mas quero me desenvolver para que meus medos não me atrapalhem”, é muito libertador. Sem chicotinhos internos, apenas algo a meu respeito que pode ser melhorado.


Estou me referindo ao medo, não às borboletas no estômago que sentimos diante do enfrentamento de um desafio, nem tampouco à ansiedade excitante que sentimos na subida da montanha russa. 


Medos mais frequentes no empreendedorismo


Miriam Rawles realizou uma pesquisa com diversos founders e chegou nos 4 medos mais frequentes. E eu tomei a liberdade de relacionar, conforme a minha experiência, quais são os estágios de desenvolvimento da startup no qual cada medo se torna preponderante:


1. Medo de criar um produto que ninguém precisa

Esse medo é mais comum no início quando estamos em busca do Product Market Fit. Eta, que etapa angustiante. 

A quantidade de testes, de negativas, de tentativas, de descobertas podem trazer uma sensação de proximidade com o fracasso. Não é trivial visualizar avanço quando ainda não se chegou no produto “a-ha”, nem tampouco decidir se está ou não está bom o suficiente para “colocar na rua”. 

Guilherme Lima, do nosso time da Astella, escreveu recentemente sobre isso, seu texto ajuda os(as) founders a perceberem se estão ou não diante de um falso positivo.

Nessa fase se apoiar em informações técnicas sobre PMF pode ser um bom amortecedor de medos, assim como consultar mentores e experts no assunto, pessoas que não estão com a pressa que o empreendedor está em partir para a próxima fase podem dar pareceres técnicos sobre avançar ou retomar os testes.


2. Medo de ficar sem dinheiro (caixa)

Edson Rigonatti tem uma frase emblemática quando explica sobre como o(a) founders devem usar do recurso recebido no investimento: “pouca água mata plantinha, muita água também mata plantinha". Consigo entender que a primeira frase dê mais medo, a falta de água. O resultado da falta de água traz um resultado visível no curto prazo. Investimento no time e em tecnologias para o produto que não geram rapidamente aumento das vendas geram úlceras mesmo. 

É muito importante que o(a) founder possua um plano detalhado para como e quando vai usar o aporte e que tenha pelo menos um plano B sobre como irá operar a organização se os resultados não vierem e/ou se o próximo aporte demorar mais do que o previsto para acontecer.

É muito comum que a empolgação do investimento gere uma perda na disciplina da execução do plano, que as contratações e rampeamento demorem mais do que deveriam. É impressionante como surgem novas ideias de como usar a verba assim que ela chega. Parece que o dinheiro estimula a criatividade. 

Se você é um(a) founder com perfil mais de inovação e menos de eficiência, tenha ao seu lado um(a) profissional de finanças que não permitirá uso indevido do caixa e que garantirá que você não será surpreendido. 


3. Medo que os competidores façam um produto que seja melhor sucedido.

Esse medo aparece de maneira tímida na definição do PMF, aquele receio que enquanto você está criando algo do zero seus concorrentes estão a frente aperfeiçoando o produto já existente ou que existam startups construindo algo mais rápido do que você.

Entretanto, esse medo é mais frequente depois que PMF está definido, que a força de vendas já está na rua: medo de perder o que já foi conquistado.

Só o(a) founder sabe a luta que foi chegar onde chegou. Na sua mente, dar um passo atrás não é uma possibilidade. Mas preciso dizer algo duro: sim, dar um passo atrás é uma possibilidade, pivotar seu produto é uma possibilidade.

Eu te convido a olhar com curiosidade e frequência para o sucesso do seu competidor. Entender minuciosamente o que ele faz melhor do que você, certamente haverá uma série de itens. Avaliar se tem algo que ele está fazendo que te provoca a fazer ajustes na sua operação e ajustar rápido.

Esforce-se para não olhar para seus competidores com medo, mas com curiosidade, com uma postura aberta para admitir que, assim como você, ele também evolui e que a evolução dele pode ser um estímulo para a sua.  


4. Medo de perder momentos importantes da sua vida pessoal

Esse medo faz parte de toda a jornada empreendedora e eu diria que é o medo sobre o qual menos se fala. 

Na nossa cultura, a palavra medo é usada para definir um estado afetivo suscitado pela consciência do perigo. Pode ser irracional ou fundamentado, mas quase sempre acontece de maneira antecipatória. Temos medo de algo que ainda não aconteceu.

Jung tem uma reflexão que pode nos ajudar aqui: 

“A vida é fluxo, movimento e transformação. O medo desse fluxo gera a necessidade de controle, em grande parte, relacionada ao desconhecimento de quem somos, o distanciamento de nossas potencialidades e nossa história. Quando nos abrimos a vida nos expomos às mudanças e naturalmente nos adaptamos - exatamente o que acontece quando entramos no mar, onde pouco a pouco nosso corpo de ajusta à flutuação, ao movimento das ondas, não controlamos o mar, mas nos ajustamos ao fluxo respeitando nossos limites e os limites do mar.”


Não quero parecer simplista. Eu mesma tenho muito medo de não estar presente em momentos importantes para minha família. Eu realmente acredito que não existe escolha profissional que nos tire o risco de não sermos para nossa família o que ela gostaria que fôssemos. O que nos resta é ter uma atenção contínua e um diálogo muito aberto com as pessoas com quem convivemos para que elas nos ajudem a irmos priorizando passo a passo como e com quem usaremos nosso tempo.


É isso, não existe uma varinha mágica que elimine os nossos medos. Seguem algumas ideias:

1) pare e sinta o medo, não tente eliminá-lo. Se dê a oportunidade de sentir e avaliar o que ele pode estar querendo te avisar; 2) converse com o seu medo, o que ele busca? O medo pode ser um aliado para nos prepararmos melhor 3) se for difícil lidar e você perceber que ele está te impedindo de realizar conquistas importantes, busque ajuda, um coach, psicólogo, figura religiosa, etc.


É necessário diálogo, parcerias, erros, acertos e muita autoaceitação para aprendermos a empreender com e apesar dos nossos medos.


Founders, faz sentido eu continuar escrevendo sobre os bastidores das emoções vividas por vocês?


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