Dar tudo de si é bem diferente de fazer o seu melhor.
- Ana Rezende
- 14 de mar.
- 3 min de leitura

1o ato
Terça-feira, 11 de março de 2025, meu marido me deixa no aeroporto às 5h da matina e me diz: “Vai forte e volta forte! Vai inteira e volta inteira”.
2o ato
Quarta-feira, 12 de março de 2025, Edson Rigonatti, no Astella Summit, encerra sua palestra sobre as milhares de decisões que os founders precisam tomar ao longo da sua jornada com relação a poder, pessoas, produtos, processos… e também sobre si mesmos com a provocação:
“Que tipo de sucesso você busca? Minha recomendação é: a paz de espírito resultante da satisfação de saber que você fez o possível para atingir o seu melhor."
3o ato
Quinta-feira, 13 de março de 2025, 1a reunião do dia era com um founder que estava se organizando para “sair” do seu sabático.
Ele me conta a história da sua vida que é composta 70% pela história da sua startup. Descreve o que fez no seu sabático.
Pergunto a ele o que aconteceu que o fez sentir a necessidade de fazer um sabático?
“No final da jornada eu não sabia mais quem era eu.“ - ele me responde.
“E agora, você já sabe?” - eu provoco
Ele abaixa os olhos, sorri amarelo e fala: “Ainda não”.
4o ato
Quinta-feira, 13 de março de 2025, mentoria coletiva sobre carreira para um investida da Astella me perguntam como que a gente sabe que a nossa carreira está evoluindo?
Respondo: quando você continua aprendendo sobre aquilo que você faz e quando aquilo que você faz é intencional, consciente e te preenche.
5o e útimo ato
Sexta-feira, 14 de março, 9h da manhã, conversa exploratória com um profissional de finanças que quer voltar a trabalhar em VC.
Ele argumenta que seu interesse em voltar a interagir com founders é que ele não conheceu nada mais energizante do que entrar em uma reunião e escutar um founder falando sobre a sua startup e seus planos.
Você conhece alguma pessoa que não queira se realizar, ter sucesso? Eu não. Todas as pessoas que eu conheço querem ter “sucesso na vida”. Elas possuem diferentes significados para a palavra sucesso, assim como, diferentes disponibilidades, preparos, energia, planos, condições, estrutura para obter o que chamam de sucesso.
No ambiente que transito mais, no meio das startups, convivo com pessoas ambiciosas, que querem causar grandes impactos. Tenho oportunidade de conhecer os(as) founders nos momentos iniciais das suas jornadas e ir acompanhando como eles(as) se transformam, como o significado de sucesso modifica, como o nível de energia altera, como uma parte da jornada é vivida de maneira menos intencional e consciente, como uma parte do processo vivido está longe de “preencher” e de realizar as aspirações.
O que mais me preocupa é quando os itens que eu descrevi acima são “normalizados” e considerados parte da jornada. Eu me preocupo por que são nesses casos que eu vejo que pedaços dos(as) founders vão ficando pelo caminho, tempo de vida, energia, bom humor, otimismo, alegria de viver, família, autoestima, autoconhecimento.
Deram o seu melhor, mas também deram, metaforicamente, quase tudo de si, talvez, as coisas que mais realmente lhes importam. Começaram inteiros e terminaram incompletos.
Penso que despedaçar-se ao longo da jornada não é uma possibilidade que apenas founders de startup podem vivenciar. Namorados, amigos, executivos, políticos, Anitas também estão sujeitos. Basta a gente se dedicar tanto para algo dar certo chegando ao ponto que o "dar certo" ganha o primeiro plano. Quando o "custe o que custar" leva embora a nossa autopercepção.
Sou contra o sabático? Claro que não. Sou a favor de qualquer processo que leva ao aumento de autoconhecimento e busca por realizações.
Apenas lamento quando o piloto automático assumido, em qualquer tipo de busca por realização ou construção de relacionamento nos cega, esconde as paisagens que transformam e atualizam as novas verdades, a comemoração dos aprendizados e celebração dos erros, o compartilhamento de dificuldades, e é claro, a possibilidade de alterar o destino final.
Lamento quando a frase "é assim mesmo" nos acalma e acomoda.
O texto de hoje não vem com respostas. Até a próxima!
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